segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

20-05-2006*

Lá vai a Preta, manca. Mancando sem destino, sem direção. A preta acha um banco e senta. Não é muito confortável, mas já era de desconfiar uma vez que a composição do banco é cimentária. Senta. Senta e olha. Olha o povo. O povo sentado e parado, o povo sentado se movimentando, o povo pra lá e pra cá à pé e o povo pra lá e pra cá nos seus carros. E a Preta começa a abstrair-se da realidade. Ficam somente as imagens e os sons. Os pensamentos ficam vazios, muito vazios. É como estar morrendo afogado, bem no limiar entre a consciência e o desmaio. A pessoa escuta, vê, mas não pode fazer nada. Foi assim com a Preta. Então, ela retomou a consciência, porém, ainda bem longe do mundo de vai e vem. Era uma pensamento meio surdo, um pensamento com conversas alegres de mototaxistas de fundo. Foi então que a Preta começou a idealizar algum maníaco vindo por trás e esfaqueando sua jugular. Ela não quer morrer, só quer pensar se alguém notaria. E, quando ela olha ao redor, vê meia dúzia de pessoas esperando, outra meia dúzia conversando e uma dúzia e meia fazendo uma espécie de barulho estranho dentro de uma coisa. Então ela vê que ninguém veria nada e que ela estava ali sozinha. Depois ela ficou invisível.


*Data de criação deste texto.




É tão bom olhar pra trás e ver que quase nada mudou. Nem a Preta. Ah, Preta! Como és insignificante!