sábado, 26 de janeiro de 2008

Carta para ninguém

Quando eu te perdi, não me dei conta de que isso tinha acontecido. Não sabia bem o que eu tinha feito e não entendia as tuas negativas a cada investida minha. Foi uma época ruim, porque eu sentia que tinha a todos e não tinha ninguém. Eu vivia numa época de conflitos internos e externos e gostava de te contar tudo o que se passava, mesmo que estivesses bem longe da minha realidade e dos meus amigos. A verdade é que sempre que eu pensava em um amigo, na minha mente vinha o teu nome. Sempre que eu pensava em palavras boas, lá vinha teu nome novamente afagar meus pensamentos com a certeza de que tu estarias sempre lá.

Eu te mandava mensagens no meio da noite quando acordava de um pesadelo e tu sempre respondias. Quando o dia tava frio (como hoje) nós saíamos pra conversar besteiras e aproveitar o tão curto espaço de tempo em que essa cidade brilha com céu cinza. O telefone sempre tocava, sempre mesmo, qualquer hora que fosse. E aí, eram hooooras de falação de besteira e, ao final, eu sempre desligava o telefone com a impressão de que, por mais que eu mudasse minhas atitudes para me proteger, por vezes me mostrando um pouco má, eu era uma pessoa boa. Não combinávamos em muitas coisas, é verdade. Porém, era isso que dava sentido a tudo. Tu querias ser assim e eu te ensinava a ser assado e vice-e-versa.

Os anos passaram, nós mudamos (e muito) e eu senti muita vontade de te escrever isso várias vezes, mandar pro teu e-mail, te fazer ler a verdade que tu merecias saber pra não me igualar a ti, que me privou dela o quanto pôde. Mas tudo o que eu fiz foi ligar no dia do teu aniversário. Ali eu percebi que não daria o braço a torcer e que nada mais seria como antes. Eu não te mandei o e-mail, não te escrevi a carta, não te comprei presente, não te expliquei absolutamente nada. Só resolvi me proteger de quem viesse depois.

Hoje, eu já não sinto mais nada por ti além de um carinho muito grande pela tua família, que sempre me acolheu e, agora tenho a possibilidade de provar, continua me acolhendo. Não tenho problemas em te desejar uma boa vida, que teus sonhos se realizem e que tu abras o olho para certas coisas e pessoas. Ao contrário do que podes pensar, eu ainda sei o que se passa na tua vida e a minha está repleta de pessoas que te cercam. Seria o destino me dizendo que eu devo, sim, dar o braço a torcer? Não sei. Se for, eu continuarei surda porque eu tenho certeza que isso não quero.

Acontece que tudo volta fantasiado de outros olhos, outros pensamentos, outras más atitudes em relação à minha pessoa. E tudo vai acontecer de novo porque, desde que eu entendi o que havia acontecido, resolvi baixar a guarda logo agora. Só que, assim como foi contigo, eu não consigo deixar pra lá, eu não consigo não conversar, eu não consigo entender que estava certa e fiz tudo errado. Eu não consigo entender que tudo era, sim, volátil demais, e, o principal, não consigo não me arrepender de ter dito as mesmas tantas coisas que um dia escrevi na tua agenda. É! Parece que eu não tinha aprendido ainda.

A minha vida pode não seguir sem os mesmos pensamentos de agora por alguns dias, mas ela vai seguir. Invariavelmente ela segue. Ainda resta carinho, preocupação, zelo, e esperança de que tudo volte, porque eu ainda guardo um pouco disso em mim. Mas é tão pouco que eu já começo a me entristecer com a perspectiva que tenho pra daqui uns dias (ou meses. Nunca anos). Ela é de que outra pessoa vai se transformar exatamente no que tu te transformastes pra mim. Um nick a mais no campo “pessoas aleatórias” do meu MSN.

“Só não vá se perder por aí.”

Eu não sei viver com o egoísmo de algumas pessoas e ponto final.