terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Sobre a minha curta memória política

Não me é muito difícil admitir a pouca extensão de minhas memórias no campo da política. Principalmente da piauiense, já que tem épocas nas quais a brasileira é praticamente enfiada goela abaixo daqueles que consomem o mínimo de informação diariamente. O fato de não ser difícil admitir isso, não quer dizer que eu me vanglorie de minha alienação. E nem poderia.

Eu cresci mesmo foi lendo as revistinhas da Turma da Mônica, do Tio Patinhas e assistindo o Chaves, o Pica-Pau e Tom & Jerry. Na escola, as professoras de História nos davam revisões, que consistiam em questionários de 15 a 20 itens, dos quais 10 estariam na avaliação; prática que estimulava, exercitava a memória, mas decoreba não dura muito tempo na cabeça de ninguém. E foi assim comigo também.

A minha esperteza pra datas, lugares, fisionomias e nomes era algo extraordinário. Lembrava números de telefones, placas de carros e até o chassi do carro daqui eu decorei.

Porém, ao mudar de escola e ver que algum dia na vida eu teria que pensar, nem que fosse só pra passar de ano, essa minha habilidade foi se atrofiando, de modo que, se eu não entendia o assunto, não tinha decoreba que desse jeito. Muito pelo contrário, fazia era atrapalhar porque eu acabava misturando o pouco que tinha aprendido com o que tinha decorado e a emenda saía pior que o soneto.

Quando eu cheguei ao 3º e último ano do ensino médio, aí sim, me vi numa sinuca de bico. Mais que conhecimento, o vestibular exige sagacidade, certa malandragem e, junto com ela, conhecimentos de atualidades, informações. Pra isso existem aquelas revistas que eu chamo de “Revistas Pré-Vestibular”, que são VEJA, Época e Isto É.

Devorava todas! Lia todas três por semana, e não tinha a assinatura de nenhuma. Pegava na biblioteca da escola, emprestado de amigos, comprava quando sobrava dinheiro do fim de semana, enfim, dava o meu jeito. No meu 3º ano já tínhamos dois anos de mandato do Presidente Luís Inácio Lula da Silva. É isso aí! Eu ainda não votava. Era tão pouco politizada que não fiz questão de tirar meu título eleitoral aos 16 anos.

Nascida numa família genuinamente petista, composta de vários ex-militantes do partido, foi no que eu me transformei. Claro que, com tamanha bagagem política, eu nem poderia dizer o porquê de ser eu uma das seguidoras da estrelinha. Minha única resposta, e que não poderia ser usada por aí para não demonstrar tamanha inépcia de percepção mundana da minha parte, era a de que meu pai é a pessoa mais inteligente que eu conheço e, durante anos, tinha exercido militância em prol do PT. Ele agora já sabe que todo mundo rouba, mas tem uns que, além disso, administram. Eu também entendi.

Quando das eleições de 2006 para governador, presidente e deputados, eu já tinha título, eu já podia votar. Não titubeei, fui lá e tchum, o dedo no 1 e no 3 em quase tudo. Só não foi 13 pra deputado estadual. Não gostava da fama do atual candidato, Antônio José Medeiros, muito criticado pelo povo da educação, segmento do qual ele foi Secretário em algum tempo que eu não sei qual foi.
Na apuração eu fui lá pro bar do seu Moisés, com um punhado de gente. Lembro bem que o Pedro, a Clarissa, o Ennio e o Marco Aurélio estavam também. Só eu e Ennio não havíamos votado nele. Mas a torcida a favor do Antônio José estava grande. O candidato que recebeu meu voto perdeu. Era o advogado Celso Barros, do PMDB (antigo ARENA) partido que, apesar de abrigar o nosso senador Mão Santa, tinha um pouco da minha simpatia. Juntando a má fama de Antônio José, à simpatia que eu nutria por Celso Barros, escolhi o segundo mesmo. Ainda hoje não acho que tenha desperdiçado voto. Talvez tenha sido o único consciente.

Votei no governador que era da situação, Wellington Dias, do PT, e não posso reclamar de sua gestão. Apesar da pouca maturidade pra sacar nas entrelinhas as manobras políticas exercidas por esses artistas, eu vejo algumas promessas de várias campanhas, não só das dele – é governador reeleito -, sendo cumpridas e realmente acho que isso é um ponto positivo. Da mesma forma que não posso ignorar os bem-feitos do tucanato, com os prefeitos Firmino Filho (1996-2004) e Silvio Mendes (2004-?).

É mister a qualquer ser humano que queira se tornar um bom jornalista, deixar a mediocridade de lado e se agarrar um pouco à sensatez. Descobri há pouco tempo que a política do pão e circo (rouba, mas faz) é um ciclo que funciona de maneira bem inversa à que o meu pensamento aceitava. Eu nunca corroborei com essa premissa. Sempre achei a mais pífia de todas. Como pode o cidadão, alguns até mais politizados que eu, abrirem a boca pra defender seus algozes alegando tal prática? “Rouba, mas faz”. Francamente!

Descobri o que muitos já sabiam. Nada de rouba, mas faz. Me foi revelado que eles fazem pra roubar. Antes não fizessem, mas também não roubassem. Ou, seria até perfeito, se eles roubassem pra fazer. Mas não.

Quando fui entrevistada pro estágio no Portal AZ, disse à editora-chefe que, exatamente por falta que lapidação intelectual na política, eu não gostaria de cobrir pautas desta editoria sozinha. Nunca recusaria ou passaria pra outra pessoa; só não gostaria de ir sozinha. Mas, meio de comunicação online é completamente imprevisível e temos que estar a postos all the time pra o que der e vier. Assim o faço na maior parte do tempo.

O que se deu foi que hoje aconteceu o julgamento dos envolvidos nos casos de violação à fidelidade partidária aqui no Piauí. O repórter cobre-tudo do portal faltou e me incumbiram de tal tarefa. Percebam que, ao longo desse extenso e cansativo texto, eu não toquei em nome de vereador. Não conheço os vereadores e, ao cobrir pauta pro meu antigo estágio na Câmara Municipal, também não entendi o que eles fazem. Aliás, durante todo o tempo que eu passei na Câmara, eles não fizeram foi nada. Tiveram uns diálogos, umas discussões que falavam, falavam e nada diziam. Acho que se me colocassem ali com meus amigos, discorreríamos sobre os temas abordados de forma bem mais consistente.

Firulas à parte, lá fui eu, a caminho do TRE (que eu também não sabia onde ficava, sendo que toda vez que vou ao TJ ou à Assembléia, passo lá em frente; mas só sabia que ficava perto), com um bloco com alguns nomes em mãos, um gravador na bolsa, um fotógrafo ao lado e um monte de informações embaralhadas na cabeça. Mas fui. E, no meu íntimo, eu estava feliz de estar ali. Não sozinha, mas minha desgraça tinha lá a sua felicidade.
Cheguei, entrei e logo avistei um amigo de universidade, que trabalha no ramo há bem mais tempo que eu. Na verdade, eu considerei o dia de hoje a minha estréia no jornalismo político. Não foi uma estréia brilhante, é verdade, mas foi uma. Sentei ao lado do amigo e peguei com ele algumas informações que muito me ajudaram a entender o processo todo.

Como desconheço muito do linguajar penal, aquilo logo se tornou um tormento. Eu só pensava em como construiria a matéria, em como repassaria as informações pra redação, já que eu teria que dá-las por telefone, para que fossem divulgadas imediatamente após o veredicto. Só sei que continuei lá sentada, olhando para juizes, desembargadores, advogados e... opa! Cadê os julgados? Nenhum na sala. O que significava que minha tarefa seguinte seria procurá-los para uma entrevista.

Eu realmente não conheço ninguém, não sei a cara de nenhum vereador. Fui meio às cegas me enfiar no meio de uma turba de jornalistas que entrevistava alguém mais adiante e usei meu gravador, prontamente separado para a ocasião. Não sem antes derrubar a caneta, o bloco e, sem a menor intenção, ignorar alguém que falava comigo, senão não seria eu. Recolhi a sua fala, a do advogado e fui embora, achando que tinha ouvido o nome da pessoa. Claro que eu esqueci o nome do fulano e, na hora de postar a matéria, ninguém no portal o reconheceu pelo rosto e deu aquela confusão.

O ponto desse post imenso, é que eu fui embora sem pegar depoimento de quem realmente interessava. Isso me causou uma frustração muito grande, uma sensação de impotência, porque tudo o que eu faço é bem feito e isso também tinha que ser. Eu precisava ter me mostrado que, mesmo com pouca memória política, mesmo sem conhecer os personagens que compõem o meio, eu tinha que ir lá e fazer bem feito! Dessa vez não deu, mas já foi um bom começo. O problema é só que, daqui pra frente, não terei esse alento. Hoje eu comecei. Daqui pra frente eu já sei de alguma coisa e é minha obrigação aprender o que ainda não sei.

Mas, sinceramente, sem querer me defender, ou justificar toda essa minha desinformação política, mas, um estado que tem como vereador uma pessoa apelidada de Didi Mocó, realmente não merece minha atenção. Não merece, mas, infelizmente, eu tenho que dar. É o único jeito de não repetir em 2008, o que fiz em 2006: votar sem a mínima noção de nada.

Nowadays, tento estender minha memória ao campo político para, além de ser mais politizada – uma característica que o brasileiro deveria ter em demasia - , exercitar algum tipo de memória, antes que ela pife de vez.

Eu passei as informações por telefone e a Ana Cândida Martins redigiu. Segundo infiel é cassado e outros dois escapam em julgamento no TRE-PI.